30/03/2025 às 18h45
Gian Mira Pantoja
Macapa / AP

Os debates envolvendo a exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira têm englobado a transição energética, os impactos ambientais e sociais e, mais recentemente, a capacidade de geração de emprego e renda. A região compreende o litoral do Amapá e se estende por 2.200 quilômetros até o Rio Grande do Norte, abrangendo três estados da Amazônia: Amapá, Pará e Maranhão. Em todos esses estados, a expectativa é que sejam criados 162.248 empregos com o início das atividades de pesquisa de petróleo, com um acréscimo total de R$ 32,3 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) local.
Os dados foram obtidos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio do Observatório Nacional da Indústria. Somente no Pará, a pesquisa estima que serão criados 51.706 empregos, proporcionando um aumento de 6,2% no PIB — o equivalente a R$ 10,7 bilhões. Os números foram baseados no sistema de contas regionais de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para isolar possíveis distorções devido à pandemia de covid-19. Nesse cenário, os estados serão responsáveis por produzir as máquinas e equipamentos necessários à produção, demandando mão de obra.
A CNI também aponta que 326.049 novos empregos serão gerados em todos os territórios que fazem parte da Margem, permitindo o desenvolvimento econômico e garantindo segurança na transição energética. A Petrobras – empresa que inicialmente será responsável pelas atividades – aposta que as reservas garantirão os níveis de produção de petróleo a partir da década de 2030, além de servirem para a descarbonização. Por isso, a estimativa é que 49% dos investimentos exploratórios sejam destinados até 2027, totalizando US$ 6 bilhões. Também serão perfurados 16 poços na Margem no período.
No início de abril, a Petrobras anunciou a confirmação da existência de petróleo na Margem Equatorial. A descoberta foi em águas profundas da Bacia Potiguar, no poço exploratório Anhangá, localizado entre os estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, sendo a segunda confirmação em 2024. A notícia gera expectativas para o setor produtivo do Pará, um dos estados que exploram essa faixa. Para Alex Carvalho, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), “a atividade representa a oportunidade de finalmente equalizarmos diferenças que historicamente nos relegaram a condições de atraso”.
“Essa expectativa aumenta quando percebemos que, em outras regiões, a exploração de petróleo trouxe grandes benefícios socioeconômicos, impulsionando a geração de emprego e renda, além de outros impactos positivos advindos dos royalties, que são revertidos para áreas estratégicas para o desenvolvimento regional, com melhorias em infraestrutura, saneamento, educação e saúde. Quando vemos o avanço dos estudos em outras áreas da Margem Equatorial, ficamos ansiosos para saber quando chegará a nossa vez”, completa.
Os mais de 51 mil empregos que a CNI estima que serão criados no Pará devem movimentar toda a economia do estado, em vários setores, estimulando o surgimento de negócios, fortalecendo fornecedores locais e internalizando compras, como aponta a Fiepa. Com isso, os impactos da atividade de exploração de petróleo devem ser vetores para o desenvolvimento econômico e social da região. “A cadeia produtiva da indústria do petróleo é bastante extensa e deve gerar empregos diretos e indiretos em diversas áreas, seja na fase de implantação do projeto, seja durante a operação da planta”, afirma Alex Carvalho.
As vagas de emprego que a exploração de petróleo deve trazer ao estado vão desde cargos em áreas técnicas, como manutenção industrial, soldagem, mecânica de motores marítimos e eletricistas, até oportunidades de ensino superior – Ou seja, áreas como engenharia, geologia, áreas de tecnologia, segurança e meio ambiente, com mão de obra especializada para atuar na exploração, produção ou refino do material serão potencializadas. “Assim como oportunidades de emprego nos setores de comércio e serviços, com impulso na oferta de hospedagem, transporte, equipamentos, alimentação, vestuário e muitos outros”, completa Alex.
A pesquisa, ainda, tem chances de ser implementada para atender às demandas da exploração petrolífera. “Outra expectativa é que sejam criados centros de estudo e pesquisa em exploração petrolífera para formar profissionais locais, integrar conhecimentos e desenvolver práticas sustentáveis para o desenvolvimento justo e inclusivo da indústria. Além disso, no Pará e em toda a Amazônia, há universidades que podem contribuir integralmente para a qualificação acadêmica de profissionais necessários à atividade petrolífera”, completa o presidente da Fiepa.
Para atingir o desenvolvimento estimado pela Federação nos diversos setores, algumas dificuldades precisam ser superadas na região. Alex Carvalho explica que a infraestrutura do estado ainda precisa de reparos para atender às necessidades operacionais, atrasando o crescimento de atividades, como portos e atividades marítimas. “A capacitação de mão de obra técnica e especializada local para atender às demandas do projeto e garantir a contratação de profissionais da própria região. Também precisaremos de investimentos para qualificar fornecedores locais.”
“O apoio do setor público na liberação de subsídios, como o Nova Indústria Brasil e o Brasil Mais Produtivo, é muito importante para a renovação e modernização do parque industrial do estado, bem como para a aquisição de tecnologia, como forma de impulsionar a verticalização da produção, para que a região possa fornecer os equipamentos e insumos necessários ao empreendimento. Assim, é importante também que as indústrias busquem acessar esses programas e incentivos que têm sido disponibilizados pelo Governo Federal”, ressalta Carvalho.
Os primeiros passos para a formação de mão de obra de qualidade para atender demandas que podem surgir com a Margem Equatorial já foram dados. No Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), por exemplo, estão sendo capacitados profissionais para atuar diretamente no suporte à operação. Manutenção industrial, soldagem, mecânica de motores marítimos, eletricistas e metalmecânicos são as áreas. Além disso, quando as atividades começarem de fato, a expectativa é que sejam oferecidos cursos específicos, como operadores de petróleo e gás natural. “O Sistema Fiepa sempre se antecipa aos grandes projetos que se instalam no Pará, identificando demandas e qualificando pessoas”, diz Alex Carvalho.
Na mesma perspectiva, a formação de profissionais para atuar na indústria do petróleo pode ser dividida em dois níveis, como explica o professor João Cruz, chefe do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Federal do Pará (UFPA): o ensino superior, como Tecnólogo em Petróleo e Gás, e a pós-graduação, lato-sensu ou stricto-sensu, oferecida por programas de pós-graduação credenciados pelo Ministério da Educação (MEC). “As expectativas são positivas para pessoas formadas nessa área, já que esse setor precisa de uma variedade muito grande de profissionais”, afirma.
O professor destaca que as áreas que podem cobrir essas vagas são extensas: geologia, geofísica, engenharia, economia, direito, administração, física, química, oceanografia, meteorologia, ciência da computação são candidatas naturais a abraçar uma das carreiras do setor de petróleo e gás. “No estágio atual dos trabalhos na Margem Equatorial, podemos dizer que ainda são necessários vários estudos exploratórios, pois a maior parte das reservas encontradas até agora ainda precisam ser validadas, para ganhar viabilidade de mercado”, afirma João.
“Nesse caso, os mais urgentes são: geólogo, geofísico, engenheiro de petróleo, engenheiro de perfuração de poços, químico, petrofísico, pilotos de aeronaves e de mar, gerente de logística de plataforma, gerente de regulação, gerente de projetos e analista econômico. Tecnólogos em diferentes expertises também são requisitados”, completa.
O professor João Cruz é coordenador de um curso de especialização, oferecido pela UFPA, que tem como foco trabalhos realizados na Margem Equatorial. A segunda edição das aulas terá início em agosto e ensinará a aplicação de técnicas de interpretação baseadas em Inteligência Artificial (IA). “Podemos formar especialistas com habilidades em analisar dados geológicos e geofísicos tanto na superfície quanto em poços, com o objetivo de caracterizar ambientes adequados para geração, armazenamento e exploração de óleo e gás”, destaca Cruz.
“Essa formação é realizada no formato EAD (online learning), com duração de 18 meses. Disciplinas com conteúdo voltado para a transição energética e sustentabilidade ambiental fazem parte do contexto desse estudo. Futuramente, planejamos oferecer esse curso também como Mestrado em Análise de Bacias Sedimentares com IA. Na primeira edição, foram oferecidas 120 vagas, sendo 30% reservadas para cobrir o sistema de cotas, o que pretendemos repetir na próxima oferta”, conta o professor.
Impactos que a Margem Equatorial pode trazer para a Amazônia
- No Pará
Valor adicional ao PIB de R$ 10,7 bilhões, alta de 6,2%
Criação de 51.706 empregos
- No Amapá
Valor adicional ao PIB de R$ 10,7 bilhões, alta de 61,2%
Criação de 53.916 empregos
- No Maranhão
Valor adicional ao PIB de R$ 10,9 bilhões, alta de 12,2%
Criação de 56.626 empregos
Fonte: CNI
FONTE: CNI
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