O relato de uma jovem que acusa o pastor de sua antiga congregação de crime sexual é perturbador e repleto de elementos que causam indignação. Com intensas dores na coluna, a vítima aceitou a oferta de ajuda do líder religioso, amplamente conhecido entre os fiéis por realizar massagens, ainda que sem qualquer qualificação profissional. O que se seguiu foi uma experiência profundamente traumática e marcada pelo abuso de confiança.

Segundo consta nos autos do processo, o episódio ocorreu em 10 de novembro de 2022. Naquela data, o pastor Jeremias Liarte Dias, de 45 anos, dirigente de uma igreja evangélica localizada no bairro Zerão, encontrava-se em uma residência no bairro dos Congós, também na zona sul de Macapá, quando a anfitriã mencionou que uma vizinha — jovem frequentadora da mesma igreja — se queixava de dores intensas nas costas.

Diante disso, o pastor prontamente se dispôs a auxiliar, e a jovem, sentindo-se inicialmente segura pela presença de outra mulher na casa, aceitou. No entanto, a situação rapidamente tomou rumos constrangedores. Já no interior do quarto, Jeremias instruiu a jovem a deitar-se sobre a cama e abaixar o vestido, o que exporia parte de seus seios. A vítima recusou, alegando que a dor era localizada na região lombar.

A denúncia do Ministério Público do Amapá descreve um cenário de absoluto desrespeito:

"Enquanto o denunciado fazia as massagens, a sra. [vizinha] se dirigiu até a porta do quarto para falar com seu sobrinho. Neste cenário, aproveitando-se da ausência da vizinha, o denunciado pegou uma das mãos da vítima, colocou sobre seu órgão genital e proferiu os seguintes dizeres: ‘Verifica se tá duro ou não. Eu te considero como filha’. A vítima retirou a mão rapidamente, momento em que o denunciado pediu que ela não contasse o ocorrido a ninguém”, narra um trecho da ação penal.

Em estado de choque, a jovem confidenciou o ocorrido apenas a uma das líderes da congregação. Contudo, apenas meses depois, encorajada por relatos similares atribuídos ao mesmo pastor, ela decidiu procurar a polícia e formalizar a acusação. Em juízo, Jeremias negou todas as imputações.

Apesar da ausência de provas periciais, a juíza Rosália Bodnar, da 3ª Vara Criminal e de Auditoria Militar de Macapá, destacou em sua sentença o peso jurídico do testemunho da vítima em casos de natureza sexual.

“O depoimento da vítima em crimes sexuais possui relevância especial, uma vez que são rotineiramente praticados na clandestinidade, às ocultas... Se o relato da vítima não for desmentido, se não se revelar ostensivamente mentiroso ou contraditório, o que cumpre é aceitá-lo”, escreveu a magistrada.

A sentença impôs ao pastor pena de 2 anos e 3 meses de reclusão, com a agravante de a vítima ter sido posteriormente hostilizada por membros da própria igreja, o que a impediu, até o momento, de integrar outra comunidade religiosa.

Contudo, em respeito às disposições legais, a pena foi convertida em medidas restritivas de direito, incluindo prestação de serviços comunitários pelo período integral da pena, além do pagamento de um salário mínimo à vítima, a título de reparação.

Jeremias Liarte Dias segue à frente da liderança da igreja, mesmo enquanto aguarda o desfecho de outro processo judicial, também por crime sexual.